15 de dezembro de 2010

Para Sempre

Lentamente volto a mim, abro os olhos para o teto do meu quarto. Passo a mão em meus olhos. Tento me lembrar do que aconteceu naquela manhã. Sei que escolhi minha vida. Minha nova vida. Lentamente, sento-me em minha cama e analiso meu quarto. Queria me lembrar disso quando mudasse. Desço da cama e meus pés descalços tocam o chão frio. Sinto calafrios em minha espinha. Vou até o banheiro e me olho no espelho. Meus olhos estavam vermelhos, inchados, com olheiras profundas. Lentamente, as memórias da manhã voltam a mim. Abro a janela e observo o bosque lá fora, sem vida. As árvores pareciam mãos de esqueletos projetadas para cima. O pôr do sol parecia querer me arrastar, junto às sombras da noite. Tudo coberto por uma espessa camada de neve. Um cenário misterioso, frio. Para mim, aconchegante. Vasculhei o bosque frio e morto a minha frente. Inspirei o ar gelado, e abri bem os olhos, tentando enxergar algo na floresta escura, não vi nada de início, mas sabia que eles estavam me esperando. Apertei os olhos, e meu coração parou, vi um par de olhos amarelos, brilhantes, olhando fixamente para mim.
Coloco um roupão e saio para o quintal. Meus pés ainda descalços pisavam no chão congelado com um ruído surdo. Minha respiração fazia nuvens no ar, que espiralavam e sumiam. Delicados flocos de neve começaram a cair. E eu sabia que era hora. Hora de abandonar quem eu era. Hora de ser quem eu devia ser.
Tirei o roupão e senti o vento frio em meu corpo nu. Senti as pontas dos meus dedos sendo acariciadas pelo vento. Meu cabelo caia como uma cortina negra atrás de mim.
Com um suspiro me atirei em direção ao bosque, ao mesmo tempo em que eu corria, meu corpo me abandonava, eu me abandonava, me deixava ser levada por quem eu era. Quem eu nasci para ser. Minha pele me deixava, deixando em seu lugar uma pele adaptada para o frio, um casaco de pelos macios. Minhas pernas agora eram curtas, porém rápidas e ágeis. Meu nariz, antes fraco e incapacitado, agora podia sentir o mínimo dos aromas. Meus ouvidos captavam ruídos baixos no fundo da floresta. E meu pelo reluzia, branco como a neve abaixo de minhas patas.
Finalmente, delicadamente caminhei até a floresta, com uma última olhada para trás. Minha casa. Minhas melhores lembranças. Luna. A pior parte era esquecer. Eu sabia que depois de alguns minutos, me esqueceria de tudo.
Virei-me novamente para a floresta e ouvi os lobos começando a uivar. Corri e me juntei a eles. Com um uivo longo e triste. Quase aflito. O som era como uma sinfonia. Mas eu finalmente me senti em meu lugar. E depois disso. Eu me esqueci. E finalmente comecei a minha nova vida.
Para sempre.

Um comentário:

  1. "E eu sabia que era hora. Hora de abandonar quem eu era. Hora de ser quem eu devia ser."

    ESta hora é sempre e nunca chega. É esparada, sonhada...traz ansiedade de suar frio...

    Hora de (se) ser.

    Sem dever. Há que se ser, simplesmente, assim, unicamente Ser.
    Volitar contra o vento
    ser única e momento
    indivisível e una
    só, plenamente.

    Minha admiração por vc e seus escritos é muito grande!
    Saiba que estou sempre aqui...e sei - isso mesmo- sei
    que você É.
    E basta (me) qeu seja vc mesma.

    Amor, sempre e infinitamente

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