22 de agosto de 2017

não vou te chamar de amor

Parece que o tempo ri da minha cara
Zomba dos meus apegos
Irônico é o destino que me leva
Estrada acima, morro abaixo, mar adentro
Nunca onde estou
Nunca bem onde quero chegar


O amor veio e o amor se foi
Um vulto à distância ficou com
Os contornos mais claros
Nunca me deixei acreditar
Que um dia por mim
Você sentisse amor


Nunca me permiti te chamar de amor
“Aquele lá que eu gosto um pouco”
“Aquela pontinha de sentimento”
“Mal resolvido” repeti até cansar
Mas no fundo eu sempre soube
Quem eu estava querendo enganar?


Renato me contou, muito tempo atrás
Mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira
E eu menti todos os dias, todas as horas
Quando acordei naquele quarto
Com outro que dormia ao meu lado
Meus sonhos me levavam a você


Quantas manhãs acordei ofegando
Peito apertado, coração acelerado
Seu rosto fazia meu mundo girar
Seu nome fazia meu estômago revirar
Alguns centímetros antes do beijo
Segundos antes da confissão


Cruéis os caminhos que nos afastaram
Mais cruéis ainda os que nos aproximaram
Você segura correntes presas aos meus grilhões
Não sei se conhece o peso que carrega
Quando olha em meus olhos e sorri
Enquanto puxa com força meus dois joelhos ao chão


Posso contar os anos, oito, talvez nove
Eu era ela, você era ele, o que mudou?
Eu não sou mais ela, nem você é ele
Por que eu não consigo caminhar
Sem olhar para trás e sentir saudade
Através daquele seu antigo olhar?


Eles eram vasos, se quebraram no tempo
Talvez ainda doa tanto porque eu insisto
Em me agarrar a alguns pedaços dela
E cada vez que aperto com força para não perder
Ela me corta cada vez mais profundo
Pingos de sangue marcam meu caminho


O tempo cínico, cruel, seguiu minha trilha
De sangue, cacos e memórias estilhaçadas
Não vai deixar de ter a última gargalhada
Trouxe a mim de novo um novo amor
Só para entregar as correntes de novo nas mãos

Daquele que jurei não chamar de amor

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