3 de março de 2022

burnout

 Sinto como se estivesse há muito tempo 

Empurrando um peso bem maior que eu

Vivendo no limite do meu corpo e do meu ser

Quebrando pedaços e beiradas como se

não fossem nada

De repente perdi um tanto enorme no caminho 

E notei que era bem maior que um nada 


Eu não consigo me lembrar de um dia 

Uma tarde, uma noite, um final de semana 

Em que eu não passasse o tempo todo 

cobrando 

exigindo

julgando 

Minha incapacidade de organizar 

E ter disciplina e ficar sentada lendo estudando

Planejando sonhando idealizando

Pra quê? Pra quem? 


Por que você nunca se permitiu paz

E descanso e espaço no seu próprio corpo 

E simplesmente o direito de ser

existir

r e s p i r a r

Nunca esteve nada bem nunca foi suficiente

Nem pra você nem pra ninguém

Sua incompletude te atormenta 


Segue aí se arrastando

Buscando, procurando, tentando

Nunca confortável, nunca estável

Nunca bem 

Com sono sem sono sem sonho

Dorme e acorda num ritmo infindável

Sem tempo e sem vontade de fazer mais

que o absoluto mínimo 

Só o suficiente pra breves momentos de prazer

Presença e lucidez

O suficiente pra sentir o que poderia ser

E isso te cortar como todas as suas lâminas

que você já usou em si mesma


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