Para um coração que é um palco
Cada novo amor é um novo espetáculo
O teatro hoje está cheio
Mas a cochia entulhada de móveis e
Amores esquecidos
É como apresentar para uma plateia
Gigante e silenciosa
Ou uma solitária alma que se levanta
E aplaude sozinha
Se envergonhar de novo e de novo
(mais uma vez)
Monólogo impiedoso contra mim
Rasga a voz e corta com uma navalha
Se esvai a plateia aos poucos
Faltam alguns minutos para o fim
Desçam as cortinas e a mortalha
E clama alto, aos prantos e berros
Implora, suplica, chama e chora
A figura contra o holofote é clara
Mas indistinta forma de sombras
Com um passo sai da luz e adeus
(continua ali e me acena do escuro)
Uma mistura de tudo me invade o peito
Maquiagem, luz, figurino, script
Mais uma vez destruo com raiva o cenário
Picoto meus papéis e rasgo o figurino
Lavo a maquiagem com suor e lágrimas
O elenco já se foi e a autora fica só
Em pé no palco sob a luz observa assentos vazios
Autora que é atriz e figurinista e cenografista
E faz a música e a iluminação
Só não decide com quem contracena, ironia
Recomeçar é sempre difícil
Esquecer as falas da peça anterior
Para decorar as novas é fácil
Difícil é esquecer sem ter um novo roteiro
Pelo qual seguir
Me levanto e aplaudo solitária
Autora atriz plateia e crítica
As cortinas se fecham e as luzes se apagam
Os passos ecoam na amplidão vazia
O show tem que continuar
(mas o anterior tem que acabar)
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