Sinto como se estivesse há muito tempo
Vivendo no limite do meu corpo e do meu ser
Quebrando pedaços e beiradas como se
não fossem nada
De repente perdi um tanto enorme no caminho
E notei que era bem maior que um nada
Eu não consigo me lembrar de um dia
Uma tarde, uma noite, um final de semana
Em que eu não passasse o tempo todo
cobrando
exigindo
julgando
Minha incapacidade de organizar
E ter disciplina e ficar sentada lendo estudando
Planejando sonhando idealizando
Pra quê? Pra quem?
Por que você nunca se permitiu paz
E descanso e espaço no seu próprio corpo
E simplesmente o direito de ser
existir
r e s p i r a r
Nunca esteve nada bem nunca foi suficiente
Nem pra você nem pra ninguém
Sua incompletude te atormenta
Segue aí se arrastando
Buscando, procurando, tentando
Nunca confortável, nunca estável
Nunca bem
Com sono sem sono sem sonho
Dorme e acorda num ritmo infindável
Sem tempo e sem vontade de fazer mais
que o absoluto mínimo
Só o suficiente pra breves momentos de prazer
Presença e lucidez
O suficiente pra sentir o que poderia ser
E isso te cortar como todas as suas lâminas
que você já usou em si mesma